segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ESSE SER ÚNICO



O ser humano é mais louco que o caranguejo (que não aprende andar para frente), que a galinha carijó (que é perturbada) e que o macaco prego (que pensa que é gente).
É o único animal que sente atração pelo que tem medo e tem medo do que sente atração.
É o único capaz de ficar de frente para o que quer e não saber o que quer.
É o único que diz que vai pensar quando está louco de vontade de dizer “sim”. Nunca ouvi falar de um gato que “fez doce” diante de uma bela lagartixa.
É o único que ama conscientemente ─às vezes. O único que mata por amor, que aprisiona por amor, que engana por amor, que acha que é amor o que é loucura.
É o único dos animais que esconde os sentimentos e tenta esconder todos os seus cheiros. É o único que esconde a bunda.
É o único que pensa na morte (dele e da bezerra), que pensa em comer menos e em como viver mais.
É o único animal que sorri, mas também é o único que possui o orgulho que pode impedir um sorriso.
É o único que vê o outro como gostosa ou gostoso sem a mínima intenção de devorá-lo.
É o único animal que guarda mágoas, vontades e histórias.
O único que lê, telefona, mente, arruma, escreve, complica, roga, interroga, entristece sem motivo. planeja, debocha, faz um sanduíche, trapaceia, fofoca.
O único animal que ignora o outro simplesmente porque o outro é menor.
Racional, o único. Um racional bem louco.
Verdadeiro bicho de sete cabeças.

Ranúzia Mello.

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